quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Quem foi Maria Werneck de Castro.

MARIA MORAES WERNECK DE CASTRO nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no ano de 1909, filha de Justo de Moraes, advogado, e Hermínia Cresta de Moraes.
Após ingressar na Faculdade de Direito iniciou sua atividade política, militando desde 1930 em organizações como a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e a União Universitária Feminina. Concluído o curso universitário, casou-se com Luís Werneck de castro, jornalista, professor e advogado, um dos fundadores em 1920 da Confederação do Professorado Brasileiro.
Ainda no início da década de 30, enquanto ocorria na Europa à ascensão do fascismo, e no Brasil as campanhas contra a guerra e o integralismo começavam a ganhar amplitude, filiou-se à Liga Antifascista, tendo participado do congresso promovido por essa agremiação em agosto de 1934 no Teatro João Caetano, no Rio.
Após a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em março de 1935, uma frente oposicionista de âmbito nacional cujo programa propunha a luta contra o fascismo, o imperialismo, o latifúndio e a exploração, assinou em abril seguinte o manifesto de fundação da Liga de Defesa da Cultura Popular, publicado no jornal carioca A Pátria. Desse movimento, que era ligado à ANL, participaram também, entre outros, Rubem Braga, Brasil Gérson, Genolino Amado, Benjamin Soares Cabelio, Carlos Lacerda e Aníbal Machado.
Em maio do mesmo ano, considerando que os movimentos feministas a que pertencia eram restritivos, na medida em que privilegiavam a conquista do voto feminino em detrimento de outras questões fundamentais da mulher, fundou com Armanda, Álvaro, Alberto, Eugênia, Álvaro Moreira e um grupo de mulheres, a União Feminina do Brasil (UFB), movimento igualmente ligado a ANL. Eleita secretária Jurídica dessa agremiação, que propunha uma luta mais ampla pelos direitos políticos, sociais e trabalhistas da mulher, foi indicada para representá-la junto ao diretório da ANL. No dia 12 de julho, um dia após o fechamento da ANL pelo governo federal, representou, ao lado do Major Carlos Costa Leite, o diretório dessa organização, numa reunião com líderes da oposição no Congresso, a saber, João Neves da Fontoura, José Augusto Bezerra de Medeiros, João Mangabeira e Domingos Velasco, a fim de discutir as punições impostas aos militares integrantes da ANL e a estratégia a adotar diante dos atos repressivos do governo. Em agosto seguinte, filiou-se à Aliança Popular por Pão, Terra e Liberdade, criada nessa época para dar continuidade à ação da ANL, que se mantinha na clandestinidade.
Esmagada a Revolta Comunista promovida pela ANL em novembro de 1935, foi presa e processada como uma das cabeças do movimento. Segundo declarações que prestou ao Jornal Voz da Unidade em 1981, em 1936, quando se encontrava na cela nº4 do pavilhão dos primários ao lado de Nise da Silveira, Beatriz Bandeira Riff, Eneida de Morais e outras, assistiu à chegada aquele estabelecimento da alemã Olga Benário Prestes, mulher de Luis Carlos Prestes, grávida de sete meses. Alguns dias depois, “quando Olga estava sentindo muitas dores e como praticamente não existia atendimento adequado, fizemos um barulhão para que ela fosse atendida”. Escolhida pelos presos para acompanhá-la em sua transferência para um hospital, obteve permissão para fazê-lo juntamente com o médico Manuel Campos da Paz, também detido. Após algum tempo circulando dentro da ambulância, foi deixada sob guarda junto com o médico próximo a Hospital na Tijuca. Olga Benário foi expulsa do país e entregue ao governo da Alemanha, onde mais tarde viria a ser assassinada em um campo de concentração.
Em julho de 1937, Maria foi julgada pelo Tribunal de Segurança Nacional e, embora se tenha recusado a se defender por considerar o tribunal ilegal e arbitrário, foi absolvida e solta. Nessa ocasião, seu marido, que também se encontrava detido como militante e membro do Corpo Jurídico da ANL, foi libertado no episódio que ficou conhecido como a “macedada”- soltura de alguns presos, detidos inclusive sem denúncia, amando do então Ministro da Justiça, José Carlos Macedo Soares, após sua visita aos presídios. Às vésperas da instauração do Estado Novo, ocorrida em novembro seguinte, e diante da iminência de nova prisão, o casal exilou-se na Argentina, aí permanecendo durante cerca de um ano.
Após a decretação da anistia em abril de 1945, Maria filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil. Militou junto aos comitês criados pelo PCB nos bairros e nas favelas do Rio, participando ainda do Movimento Unitário dos Trabalhadores e Intelectuais (MUTI) durante os três anos seguintes, considerados por ela “um grande gole de liberdade que apenas aguçou mais a nossa sede”.
Foi integrante do quadro de procuradores da Caixa Econômica Federal e com a perseguição política foi desligada de seu quadro. Após a democratização de 46 foi reintegrada e permaneceu até a aposentadoria na década de 60.
Ainda na década de 60 criou o Curso Bandeirantes, preparatório para a admissão ao Ginásio. Era Diretora e professora de português e história.
Teve quatro filhos e, ficando viúva em 1979, residiu uma temporada em Goiânia, retornou ao Rio de Janeiro onde tem participado das atividades dos movimentos de mulheres.